Perdão.
Perdão por não ter
ido comprar o açúcar que acabou. Você odiava quando acabava açúcar, o
café fica muito forte e isso te deixava de mau humor.
Perdão por não ter
podado o jardim, as rosas crescem muito rápido e a vida é muito corrida. Além
disso, eu adoro o perfume das rosas se despetalando com o vento.
Perdão por não ter
ido à padaria comprar aquele pão com coco que você tanto gostava. Sabe o que é
a padaria era longe da nossa casa, e sempre cheia daquela gente enfadonha que
frequenta as padarias aos domingos atrás do pão de coco.
Perdão por não ter
usado aquela lingerie que você tanto gostava aquela com renda e lacinho, eu
nunca gostei dela, sempre achei que evidenciava minhas estrias, que você
insistia em dizer que eram tatuagens belíssimas contando a história do meu
corpo.
Perdão.
Perdão pela
sujeira na sala, pela areia da gata que não limpei, pela xícara na cabeceira da
cama com um resto de chá que você insistia em derrubar nos lençóis.
Perdão por não ter
ouvido suas queixas quando me pedia mais tempo contigo, quando criticava minha
falta de sensibilidade com o carteiro, que mais uma vez entregou nossas
correspondências no vizinho.
Perdão, pelas
minhas risadas altas na casa, pelo bolo que eu cutucava com uma colher dentro
da geladeira, que te deixava doido.
Pelo vinho que
derrubei na sua camisa azul, pelo carro que bati quando sai com as minhas
amigas.
Perdão por tudo o
que não vamos viver juntos, os filhos que não vamos ter, pelas visitas aos amigos
que ficarão doentes, pelos almoços de domingo com sua família, pelas viagens
para o exterior que serão feitas em outras companhias. Pelo amor que não podemos mais compartilhar.
Perdão.